Sem dúvidas vivemos a era da ansiedade. Alimentada pela hiperconectividade, o uso das redes sociais, que aumentam o padrão (estético, financeiro, performático) e a demanda por produtividade e resultados, a ansiedade é fator presente e inseparável do nosso modo de funcionamento atual.
Quando a ansiedade chega às crianças
Inevitável e infelizmente, esse transtorno também atinge nossas crianças, especialmente no período pós pandêmico: estudos apontam que 7% das crianças entre 13 e 17 anos nos EUA já foram diagnosticadas com transtorno de ansiedade e, em contexto de pandemia, uma meta-análise apontou que 26% das crianças e adolescentes entrevistados, relataram sintomas deste transtorno.
Esses não são fatos isolados e os sintomas não podem ser negligenciados ou confundidos com “falta de vontade”, “insegurança” ou “frescura”. Embora sentir medo, preocupação ou receio seja parte normal e fundamental do desenvolvimento infantil, quando comportamentos como esses se tornam impeditivos para a realização de tarefas cotidianas, precisamos estar em alerta. Precisamos observar os padrões de comportamento social, familiar e escolar para entender se a recorrência desses comportamentos se caracteriza como um transtorno perene e crônico.
Os fatores de risco do dia a dia
Um estilo de vida excessivamente demandante, um contexto familiar de altas cobranças e expectativas e vivências precoces de estresses emocionais andam lado a lado com uma vida escolar intensa, do ponto de vista acadêmico e social, como fatores de risco para a ansiedade infantil. A isso, somam-se os perigos da internet e das redes sociais, onde as crianças entram em contato com assuntos para os quais não estão prontas nem física, nem neurológica e muito menos psicologicamente para lidar. Conteúdos altamente sexualizados, conversas ofensivas, padrões estéticos e emocionais inatingíveis, exposição a perigos que eles são incapazes de dimensionar – tudo isso em livre demanda, sem supervisão, atingindo um cérebro imaturo e abrindo brechas para que a angústia e a ansiedade tomem conta.
Somos todos responsáveis pelos cuidados precoces, para que a ansiedade na infância não gere impactos que serão carregados pelo resto da vida: segundo estudo publicado em março de 2023 na “The British Journal of Psychiatry” pela Cambridge University Press, padrões de ansiedade e depressão persistentes da infância à adolescência estão associados a piores desfechos em saúde mental, educação e emprego na vida adulta.
Como prevenir e cuidar da ansiedade infantil
Um ambiente acolhedor, que prioriza o bem-estar infantil, tempo de telas controlado, contato com a natureza e o cuidado com a pressão e demandas direcionadas às crianças e aos adolescentes, são fatores de prevenção para a ansiedade infantil, assim como a promoção da autonomia, o exercício da tolerância à frustração e experimentação de vínculos fortes e saudáveis.
Do ponto de vista do tratamento: acompanhamento em terapia e com médicos especializados dão suporte para crianças que já estejam diagnosticadas- é preciso ficar atento aos sinais.
A ansiedade infantil é real e precisa ser olhada de perto, como o desafio que se apresenta na modernidade, mas pequenos hábitos, perdidos há tempos, como jogos colaborativos, trocas reais, em tempo real e brincadeiras ao ar livre podem ser caminhos para retornarmos à conexão tão necessária com nossas crianças.
Carolina Amiach
Orientadora Educacional – Escola PlayPen