Uso da inteligência artificial na escola

23/10/2025

Reggio Emilia, cidade no Norte da Itália, é o berço de uma abordagem educativa que inspira escolas ao redor do mundo. Loris Malaguzzi, um pedagogo visionário, abraçou a iniciativa de construir uma proposta educacional com o apoio da comunidade após a Segunda Guerra.

Em Reggio Emilia, na primavera, ocorre um evento que dura uma semana e envolve toda a cidade – Reggionarra, um projeto cultural dedicado à arte de narrar, nascido em 2006. O projeto é inspirado na crença de que cada pessoa tem talento natural para contar histórias e transformar cada pequeno acontecimento diário em uma extraordinária experiência de vida.

Reggionarra transforma Reggio Emilia na cidade das histórias: contadores de histórias profissionais e companhias de teatro, juntamente com os pais no papel de contadores de histórias, animam vários lugares que se tornam espaços narrativos dedicados a ouvir histórias, contos de fadas e leituras animadas. A contação de histórias é a protagonista de uma experiência comunitária em que as pessoas, como nas praças do passado, se encontram para trocar histórias e contos, transformando praças, pátios, escolas e bibliotecas, em pequenos ou grandes palcos de vida narrada.

Aqui na Escola Cidade Jardim | PlayPen, há 7 anos, inspirados na experiência de Reggio Emilia temos o PlayPen Narra – um convite às famílias a adentrar as portas da sala de aula e compartilhar histórias, lidas ou narradas, com as turmas de seus filhos. A participação das famílias no projeto educativo é um traço qualificador na experiência educativa.

Contar histórias é um ato de criatividade. É uma forma de criar significados, de se abrir ao novo, de dar formas a mundos possíveis e inéditos.

As histórias ajudam adultos e crianças a redescobrir e regenerar o prazer de ouvir e o prazer de narrar, a devolver significado e encanto às palavras faladas, lidas, escritas e ouvidas.

A magia das histórias cruza a realidade com a fantasia, nos ajuda a encontrar vida e cultura, conhecer e interpretar o que nos rodeia.

‘Narrare è come viaggiare – attraverso le storie, le culture, I popoli.

Chi viaggia incontra persone, identità, oggetti.

Chi viaggia insegue i sogni e le meraviglie dela vitta. Chi viaggia conosce, apprende e as poi raccontare. Viaggiare, quindi, è come narrare.’

‘Narrar histórias é como viajar – através de histórias, culturas e povos. Quem viaja encontra pessoas, identidades, objetos.

Quem viaja persegue os sonhos e as maravilhas da vida. Quem viaja conhece, aprende e depois sabe recontar.

Viajar, portanto, é como narrar histórias.

Che cos’è Reggionarra | Reggionarra

O uso da inteligência artificial (IA) nas escolas é um tema urgente. A tecnologia já está presente no cotidiano dos alunos, seja de forma direta, quando interagem com plataformas digitais, ou indireta, nos algoritmos que moldam suas experiências online.

A escola, portanto, não pode se furtar de discutir quando e como esse contato deve acontecer.

Recomendações internacionais

Diretrizes como o AI Act da União Europeia e relatórios da UNESCO indicam que a introdução da IA no ambiente escolar deve ocorrer apenas a partir dos 13 anos.

A justificativa é clara: crianças menores ainda estão consolidando habilidades cognitivas fundamentais, como o raciocínio, a análise e o pensamento crítico.
Se delegarem cedo demais tarefas à tecnologia, correm o risco de perder oportunidades de aprender com os erros, construir resiliência e ganhar confiança em suas próprias capacidades.

A experiência PlayPen

Na PlayPen a abordagem é progressiva. Antes do contato direto com IA, os estudantes passam por três etapas:

  • Uso consciente de gadgets
  • Compreensão de softwares
  • Cidadania digital

Projetos mostram como se aplica na prática. No projeto do 4º ano, alunos exploraram imagens rupestres geradas por IA. Ao perceberem erros sucessivos da ferramenta ao tentar decifrar as “mensagens”, concluíram que a tecnologia não é fonte confiável de informação. Uma experiência essencial para formar o olhar crítico e ensinar a questionar respostas automáticas.

No Fundamental, estudantes criaram deep fakes em ambiente controlado. A atividade, depois ampliada para famílias e visitantes em oficina escolar, mostrou tanto o fascínio quanto os riscos dessa tecnologia, desde impactos na reputação até a disseminação de notícias falsas. Assim, a escola abriu espaço para debates sobre privacidade, autoria e manipulação digital, preparando toda a comunidade para desafios reais.

Os riscos e o equilíbrio necessário

Os riscos do uso precoce da IA são reais:

  • Dependência tecnológica
  • Perda de identidade textual
  • Dificuldade em perseverar em tarefas complexas

Mas excluir a IA também não é solução. O caminho está no equilíbrio: oferecer formação sólida em cidadania digital e pensamento crítico antes da introdução prática da tecnologia.

O papel das escolas

Mais do que aderir a inovações, cabe às escolas conduzir os alunos a uma relação ética, crítica e consciente com a IA. Não se trata apenas de ensinar a usar, mas de formar cidadãos capazes de decidir quando, como e por que usá-la.

O papel das famílias

Famílias e escolas precisam caminhar juntas. Limitar o contato com IA antes dos 13 anos é só parte do desafio. O essencial é manter abertas as conversas difíceis, sustentar a frustração dos jovens diante dos limites e oferecer referências sólidas para um mundo cada vez mais moldado pela inteligência artificial.